eu tinha algo diferente, era um Yaô....

Rychelmy Imbiriba

Hoje faz 17 anos que eu, na época, um menino magro do cabeção , nasci de novo, Esú me amparou em seus braços e me deu nova vida. Não foi fácil para um adolescente enfrentar uma sociedade preconceituosa e racista mas, a partir daquele momento pouco me importou o que pensavam as pessoas que me rodeavam, eu tinha algo diferente, era um Yaô. Durante todos esses anos que se sucederam em minha vida, o orisá me ensinou muitas coisas, sobre mim mesmo e sobre aqueles que me rodeavam, aprendi que o aprender é eterno... No momento que escrevo esse texto recebi algumas ligações, lembrando deste dia de alguns daqueles que me dão a honra de poder dividir com eles o pouco que aprendi, esse é um presente que não tem preço, to emocionado.... 

O orisá não é meu, ele é de todos aqueles que nasceram com um caminho do asé, nunca escondo o segredo aos meus filhos. Orgulho-me muito, pq em todos esses anos em nenhum momento me faltou a fé, sempre acreditei no que tenho, tudo que fiz e faço foi por amor, nunca ganhei um real no candomblé, mas ganhei corações, marquei a vida de alguns e aprendi com eles e me sinto realizado. Candomblé é a minha religião, batalho aqui fora, me formei, fiz especialização e curso e mestrado, encontrei um meio de mesmo lá fora entender a dinâmica de nossa história, e deixarei minha contribuição no asé não só como o sacerdote que sou, mas também como intelectual e militante da população afro no brasil! Gostaria de agradecer a todos os que de forma direta ou indireta me acompanham esses anos, os que doaram um tempo de suas vidas ao axé, lavaram , varreram , pegaram folhas, seguraram ebós, ou os que simplesmente vieram as festas e cantar e bater palmas. Quero agradecer a minha família carnal, a Gilmar, a minha yalorisa mãe Lourdes, meus amigos, e principalmente aos meus filhos, que são a razão de minha casa existir.
Te amo Esú, e sempre vou te amar.....